terça-feira, 8 de maio de 2007

PHASIS

Dados para Catalogação na Publicação (CIP) Internacional e Câmara Brasileira do Livro:

Gonsalves, F. Antenor
Phasis – F. Antenor Gonsalves. Brasil.
Brasil – 2006.
VOLUME I
1 – Literatura 1. Título.

Índice para catálogo sistemático:
1 – Literatura. Século XXI. Literatura Universal.
2 – Século XXI Literatura. Literatura Universal.

Todos os direitos reservados de acordo com legislação em vigência.

Revisão, diagramação, editoração, paginação, digitação, capa:
F. Antenor Gonsalves.

Impresso no Brasil.

ISKRA
EDITORA E DISTRIBUIDORA

IDÉIAS



PHASIS



F. Antenor Gonsalves




1
Quero, antes, prevenir-vos: abomino as questões pessoais, principalmente aquele interrogatório policialesco, tipo “onde você nasceu?”; “quantos anos você tem?”; “em que você trabalha?”... Portanto, quero advertir-vos: SOU UM CIDADÃO DO MUNDO, SEM PÁTRIA E SEM PATRÃO.
***
2
Impossível conceber que um cidadão honesto – que dedicou toda a sua vida à honestidade e à honradez – delegue poderes a um corrupto e ladrão para representá-lo (portanto sou visceralmente contra eleição e jamais votarei).
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3
Um certo homem sábio, portanto honesto (ou honesto, portanto sábio), ao receber a visita de um cobrador de impostos, disse-lhe:
– Primeiro, cuidarei do meu pão; depois, pensarei no do ladrão.
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4
Democracia é a prevalência da “vontade” de uma maioria ignorante e serviçal sobre a minoria consciente.
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5
Quem fala a verdade não merece castigo.
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6
Lutar! Lutar sempre, mesmo que a derrota se prenuncie inexorável.
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7
Nunca se sinta um anão diante de um gigante nem um gigante diante de um anão.
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8
A empresa pública tem como característica a corrupção; já a empresa privada não existiria sem a exploração.
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9
Amigo a gente escolhe, parente não.
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10
O capitalismo é cruelmente nocivo até mesmo onde ele não existe – a crise econômica em Cuba é a prova irrefutável disto.
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11
O perdão é a arma predileta e inseparável dos incapazes e covardes: quem pode, sempre vai à vindita (mesmo que seja em forma de “perdão”).
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12
E eu compreendo que o perdão é a expressão mais arrogante de castigo para quem o recebe e a mais berrante expressão de incompetência e cobardia para quem o dá.
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13
É sempre legítima a violência contra a violência insuportável.
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14
O policial é aquele indivíduo que não usa o sentimento e tampouco a razão, mas às vezes cumpre a lei.
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15
Um policial não tem nacionalidade em sua estupidez e seus métodos de violência. A polícia é o braço armado do judiciário.
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16
O religioso diz abusivamente: “Deus é onipresente – está em toda parte”; mas quando está sozinho, olha para um lado e outro e, quando não vê ninguém, rouba o seu próximo.
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17
Tenho observado uma diferença básica entre o homem e a mulher: o homem vê e se preocupa com os buracos da rua (principalmente os da rua); a mulher contempla vitrines.
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18
Em minha pátria, os políticos (a quem prefiro denominar politicóides) são tão medíocres e hipócritas que se cospem e se lambem desavergonhadamente.
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19
O ódio é a memória da afronta.
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20
Prefiro viver de tédio de que morrer de amores.
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21
Ser livre é tudo, principalmente ser livre para tudo.
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22
Não sinto a menor falta das mulheres que já tive, mas confesso: é incontrolável a necessidade da próxima.
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23
Fala baixo senão eu grito.
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24
Nossos heróis não são os heróis dos livros.
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25
Só morrem as causas pelas quais ninguém morre.
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26
Que eu não sou o dono da verdade é provável, mas que eu não sou serviçal da mentira é indiscutível.
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27
Tudo está em tudo.
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28
Há pessoas que costumam medir as outras com a sua própria medida: para o ladrão, todo mundo é ladrão; para o desonesto, todo mundo é desonesto; para o demagogo, todo mundo é demagogo...
Não me meças nunca com a tua medida.
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29
Fumar, como todos os vícios, é um ato de extrema ignorância e primitividade, com o qual eu não compartilho.
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30
Os que defendem a liberdade de expressão e opinião fazem apenas uma restrição: que ninguém se atreva nunca a “pensar” nada que lhes contrarie os interesses pessoais.
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31
A lei não pode ser nunca objeto de interpretação, pois assim sendo, transforma-se em faca de dois gumes – instrumento perigoso nas mãos de magistrados corruptos e tiranos; e o juiz jamais poderá ser intérprete da lei, e se assim o faz, extrapola sua função e passa a legislar.
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32
O alicerce da justiça é a verdade.
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33
A justiça é a verdade concretizada; portanto, não há aquela sem esta.
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34
Os homens se superam na vida: é sobrevivência; os homens se superam na lida: é ciência; os homens se superam na guerra: é morte; os homens se superam na paz: é esporte!
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35
O poder de decidir que a palavra dá; o poder de induzir que a poesia tem. Mas a última palavra tem sido mesmo da pólvora.
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36
A ciência é apenas o resultado da experiência catalogada e teorizada.
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37
Quando “a ciência falha”, a psicanálise explica.
E o pior é que não creio em psicanálise – já disse: psicanálise é o vácuo da ciência; é a pseudociência da conformação.
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38
... não se trata de Direito Comercial. Pai e mãe são diferentes de marido e mulher. Pai (no conceito da mãe e do direito formal) tem apenas a função de pagar contas (pensão). Assim, o pai passa a ser o réu e o filho, refém da mãe!
Dizem: “O pai abandonou os filhos”... Nunca dizem: “A mãe expulsou o marido” ou “o marido não agüentou mais a mulher”. Pais são para sempre.
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39
Não deve o poeta promover a palavra, mas é do seu imperativo dever elaborar a palavra inquieta.
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40
O que têm feito os poetas senão antecipar o futuro?
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41
Em terra de cego quem tem um olho é caolho.
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42
Em terra de cego, não é preciso ter um olho para ser rei: basta fingir que enxerga.
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43
Propalam que um otimista diante de um copo pela metade com uma substância qualquer, diz que o copo está “quase cheio”; que o pessimista diz que o copo está “quase vazio”.
Quanta ilusão! Eu só consigo ver um copo com uma substância pela metade.
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44
A justiça é uma prostituta cega.
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45
Filosofias, éticas, conceitos, princípios, religiões... têm servido tão-somente para dividir povos e/ou para subjugação de uns por outros.
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46
Desistir de lutar não é apenas falta de amor: é falta de esperança, de perspectivas novas, de solidariedade... Desistir de lutar pode ser apatia, assim como pode ser até mesmo bom senso ou estratégica. Portanto, o amor por si só não faria ninguém lutar. O brio e a esperança também fazem o náufrago lutar quantas vezes se lhe afundem o barco.
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47
Não vencemos quando destruímos o nosso semelhante, mas sim, quando domamos o animal que há em cada um de nós!
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48
Os homens burgueses pensam com o bolso e as mulheres burguesas pensam com a vagina.
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49
Não se pode cobrar nada de quem nada recebeu.
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50
O ser humano não necessita de castigo pelo seu erro, mas sim de estímulo para o acerto.
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51
Os porões são o refúgio da justiça: é aí onde está o que há de excretório da sociedade. Aliás, os porões não são o refúgio da justiça: são o santuário do judiciário, em todos os tempos e todas as civilizações.
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52
Não podemos (nunca!) sinonimizar justiça e judiciário, que muitas vezes têm sido antônimos e antagônicos.
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53
Até mesmo o amor faz mal quando não se submete à razão.
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54
Os partidos políticos – quaisquer que sejam eles – são, intrinsecamente, anti-revolucionários, pois que REVOLUÇÃO não é só “mudança brusca”, tem que ser também constante. Revolução é mudança construtiva permanente, e os partidos políticos são anti-revolucionários, principalmente porque trazem em si mesmos um fim e o fim no bojo dos seus programas, estatutos, objetivos finais e militância, e servem apenas para ascensão dos oportunistas... Somente os movimentos sociais e a ciência pura são verdadeiramente Revolucionários.
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55
O que comumente denominam de brincadeira nada mais é do que uma mentira disfarçada ou uma verdade não assumida. Ou vice-versa.
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56
O silêncio e a paciência fazem um sábio; o sábio faz, com paciência, o silêncio; e, em silêncio, faz tudo com paciência.
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57
Nada fere mais a um ditador do que a audácia de um libertário. E ditadores são todos aqueles que ditam aos outros o que eles mesmos não são capazes.
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58
A educação tradicional é inescrupulosamente reacionária e conservadora.
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59
Para os medíocres, mentira e verdade só fazem diferença quando pela conveniência.
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60
Lei é a regulamentação dos interesses e costumes de uma classe social dominante.
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61
Uma nação que não é solidária nem mesmo na tragédia.
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62
“Amor” que se comporta – que não arrebenta porta, seja como for – pode ser tudo, menos amor.
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63
O amor se acaba gotejando.
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64
A existência é uma atroz e paradoxal retirada: quanto mais se anda, mais se recua; cada passo adiante é mais um passo para trás. Toda existência acaba no silêncio único! No injustificável vazio! No bestial esquecimento!
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65
Quem mata o tempo mata a si mesmo.
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66
A modéstia é uma autodeclaração de incompetência. Mas às vezes é uma incontrolável necessidade de aplausos, ou demagogia também.
Quem é bom, é bom mesmo; e tem mais é que ser exaltado. Ou vamos enaltecer o mau? NUNCA!!!
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67
As mulheres se arrumam para os outros; para seu homem, elas se despem.
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68
Para se ajudar alguém, não basta que esse alguém necessite ou apenas mereça – ele tem que necessitar e merecer.
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69
Se alguém ganha mil dinheiros e gasta mil e cem dinheiros, ele está mais pobre cem dinheiros. Mas se alguém ganha cem dinheiros e gasta noventa dinheiros, ele está mais rico dez dinheiros e, conseqüentemente, está cento e dez dinheiros mais rico do que aquele que ganha dez vezes mais do que ele.
Assim, podemos concluir – com apurada lógica e razão – que, justapostamente, o que se economiza é mais importante do que o que se ganha.
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70
A imprensa se omite de tudo que não dá lucro – nem financeiro e nem ideológico.
A imprensa fatura com as tragédias e a dor dos outros.
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71
Entre o jornal escrito e a televisão, o pior é que não se pode pegar a televisão e fazê-la útil antes de jogá-la na lata de lixo.
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72
Fazer uma idiotice uma vez pode ser uma pequena bobagem, mas cometer uma bobagem duas ou mais vezes é, com certeza, uma grande idiotice.
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73
Quem tem um pé no passado e outro no futuro vive com as nádegas no presente.
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74
As tintas dos livros largam e as páginas amarelam, e assim são as pessoas: apesar dos pesares são úteis em todas as circunstâncias!
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75
Nada supera a esperança como força propulsora da vida.
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76
A razão maior do viver é a esperança, pois quando perdemos todas as esperanças nos tornamos suicidas em potencial.
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77
Não há consciência política que não sucumba à fome, mesmo que sucumbir sinonimize viver-morrer com dignidade.
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78
Mesmo que eu estivesse caído, ainda assim eu olharia meus inimigos de cima para baixo.
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79
Desconfio de que eu tenha colecionado na minha vida mais inimigos do que amigos – é tão raro pessoas honestas e confiáveis.
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80
Aceitar as pessoas como elas são é uma criminosa conivência ou – na melhor das hipóteses – um conformismo que só nos leva ao atraso: devemos aceitar o bandido como ele é? Jamais!
Por boas que sejam as pessoas e as coisas, eu as quero sempre melhores – é assim que crescemos; é somente assim que progredimos.
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81
É certo que “a roupa não faz o monge”, mas é inegável que um monge faz sua roupa.
Distinguimos perfeitamente uma farda de um hábito na multidão, assim como diferenciamos claramente uma farda e um hábito em um mosteiro ou em um quartel, e, prontamente, identificamos seus usuários.
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82
Os insaciáveis são infelizes. Os egoístas são infelizes.
O indivíduo anda a pé e sonha em ter uma bicicleta – ao menos velha – e um dia consegue sua bicicleta velha; mas logo sonhará com uma bicicleta nova e consegue sua bicicleta nova. Agora quer ao menos uma motocicleta ainda que velha, e consegue sua motocicleta velha; mas agora quer uma nova e consegue uma nova. E não está satisfeito e quer um carro – “não faz mal que seja velho”. E consegue o carro, mas logo quer um carro novo, e em seguida quer um carrão; e um avião; e um jatinho; e um supersônico; e muitos aviões; e fábricas (de preferência de carros e aviões)... E sua ganância não tem limites e assim sua felicidade será tão fugaz e efêmera quanto seus sonhos e ambições.
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83
Poucos se dão conta de que têm duas mãos: uma para receber, mas a outra para dar, pois aquele que “tem as mãos fechadas”, de lá nada sai, mas também nada entra.
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84
Odeio a idéia de limpar qualquer coisa exatamente porque amo a limpeza.
Quem vive limpando é porque vive sujando.
Por mim tudo permaneceria eternamente limpo: de palácios a puteiros (só que em não havendo nem palácios e nem puteiros, não haveria nada mais a se limpar).
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85
Somente um imbecil atiraria no próprio teto.
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86
Serviço fácil eu não faço; serviço que o cliente não tem pressa não me interessa.
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87
A mim – que jamais comprei fiado; que sequer passei um cheque pré-datado – como te atreves a me falar em fiado?!
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88
Triste paradoxo: a paz custa vidas! E mais trágico ainda: vidas inocentes!
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89
Não é o mesmo um conjunto de flores com algumas folhas que um conjunto de folhas com algumas flores.
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90
Amargamente vivi a constatação fatídica de que nossas vidas estão nas mãos dos bandidos, dos tiranos (governantes, juízes, médicos, advogados...); das bactérias... e a nós nos resta apenas o único, legítimo e inalienável direito ao esperneio; direito este regido pela verdadeira, suprema e incorruptível lei da sobrevivência, o que justifica “a legitimidade da violência contra a violência insuportável”.
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91
Quem pode reviver não vive de relembrar.
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92
Às feministas (e aos que se dizem defensores das minorias) eu diria: Grande merda! ou grande porra! As questões são de humanismo; não são nem machistas e tampouco feministas, caramba!
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93
Tenho o dever moral de ver com otimismo o futuro das mulheres (de todas as mulheres!), mas principalmente das prostitutas, das vaidosas, das incultas, das adúlteras, das mentirosas, das traidoras, das vadias...
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94
Contei nos dedos das mãos as pessoas de bom caráter que conheci em toda a minha existência, e sobraram-me dedos para apontar para o resto – não mais que resto! – e gritar enojado: Canalhas e traidores!
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95
O amor... Ah! O amor é abstrato.
O ódio... Ah! que ódio! O ódio é abstrato. No entanto eu posso escrevê-los com letras de sangue, suor, lágrimas; com letras de chumbo, isopor, concreto, aço... Posso até vivê-los com pólvoras e provas, mas o que carrego cá dentro – bem nas entranhas – será sempre abstrato.
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96
Se os meus olhos te incomodam, fura-os, assim te amarei: cegamente!
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97
Os poetas falam para o porvir. Mas é que ninguém te ouviu... só isso...
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98
Há amor de se sonhar; há amor de se viver; o que de fato não há é amor sem você.
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99
Sentirei tua falta na cama; quanto ao demais, freqüentarei supermercados e restaurantes, como eu já deveria ter feito bem antes. Agora, adeus!
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100
Vivendo de escolher entre o “mal e o menos ruim”, meu bem, eu quero te dizer: entre mim e ti, eu prefiro a mim.
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101
Porei a lua na mochila e sairei a passear pelas estrelas: em algum lugar eu hei de encontrar o teu amor que um dia eu perdi em um fosso qualquer da existência.
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102
O amor não se esvai quando a gente diz: vai; o amor não se desespera quando a gente diz: espera!
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103
As mulheres têm lutado denodadamente para terem direitos iguais aos homens (só direitos; deveres não).
Só que, infelizmente, elas têm se igualado aos homens no que há de pior do Homo Sapiens: direito de passar a noite em uma mesa de bar; direito de trocar de parceiros (quantos lhes apareçam), direito de usar drogas... e até mesmo direito de darem uma de “machões”. Igualaram-se aos homens no que há de pior no homem.
***
104
Passa já da hora de repensarmos a república e a democracia.
O que servia aos romanos e aos gregos há milhares de anos atrás, não tem nenhuma razão de ser para as civilizações hodiernas.
As fronteiras demarcadas ou violentadas pelas lanças e espadas do império romano há dois milênios atrás já não se justificam. Na pior das hipóteses, hoje já se fala em “comunidade internacional”.
Democracia – mesmo na etimologia e acepção do termo – não exprime e tão menos justifica sua definição acadêmica. A prática é outra.
Exemplifiquemos: um país com duzentos milhões de habitantes tem um colégio eleitoral de cento e vinte milhões de eleitores inscritos, o equivalente a 60% do total da população, dos quais 17% (vinte milhões e quatrocentos mil) abstêm-se do voto; outros 6% (sete milhões e duzentos mil) votam nulo e 5% (seis milhões) votam em branco, perfazendo apenas 86.400.000 (oitenta e seis milhões e quatrocentos mil) votos válidos divididos por X candidatos.
Se o candidato mais votado obtiver 50% + 1 dos votos válidos, ele será eleito com 43.200.001 votos!!! ou seja: 21,6000005% de toda população do país.
Se subtrairmos os votos comprados – que geralmente são muitos –, os que votaram no “menos ruim”, os que não tiveram outra opção, os que votaram para “pagar favores”, os que justificam: “esse rouba mas pelo menos faz alguma coisa”, os votos de cabresto, os currais eleitorais, os de boa fé que acreditam no “comigo é diferente”, et cetera, et cetera, et cetera... então, o que há de sobrar?!
Democracia pode ser qualquer coisa, menos governo da maioria, e, por conseguinte, nunca foi, é ou será “governo do povo, pelo povo e para o povo”; senão para o que era o povo na Grécia antiga.
Hoje, porém, democracia não passa de uma ignominiosa farsa para legitimar a ditadura do capital.
Porém, há alguns que argumentam: “Mas não inventaram nada melhor” querendo dizer “é assim e não devemos pensar nada diferente”, como se o diferente nunca pudesse ser melhor do que um miserável pai de família aparecer na “grande mídia” declarando o seu “voto secreto” em determinado candidato porque este um dia lhe deu umas migalhas do seu próprio pão que o candidato “bonzinho” lhe roubou.
Votar – delegar poderes – é assumir:
– Eu sou um idiota e incompetente.
Governemos nós mesmos o que é nosso, em assembléias, mutirões... Seja como for, menos com corruptos e ladrões.
***
105
Dir-se-ia que a luta pelas drogas substituiu a “luta de classes”, ou que as diferenças sócio-econômicas foram substituídas (ou supressas?!) pelo poder aquisitivo dessa ou daquela droga por determinada classe social, sentenciando assim a elitização e a proletarização das drogas ditas “ilícitas”.
Com efeito, a classe social de maior poder aquisitivo determina (também nesse campo) a regra do jogo. Desta feita, podemos afirmar que o traço de união entre as classes sociais, hoje, são as drogas – em todos os seus leques.
***
106
É de natureza imperativa uma análise profunda sobre o papel da mídia na divulgação, banalização, massificação, etc., etc., de crimes (em particular, gerados pelas drogas e a elas correlatos – incluam-se aí alcoólicas e tabágenas – estas, legalizadas e de baixo poder aquisitivo, atingindo assim todas as camadas sociais, ficando a “luta pelas drogas” restrita às drogas ditas ilegais ou ilícitas).
***
107
Não é possível identificar ou determinar com precisão os elementos de indução ao consumo de drogas, e tampouco é verossímil que um ou outro fato isoladamente determine o vício...
***
108
Retórica – aos filhos eu diria: não vos devo nada! Já vos dei a vida. Vós é que me deveis. Aos pais eu diria: não vos devo nada! Vós me deveis o orgasmo; e para ganhar o direito à vida, antes de nascer já matei trezentos e oitenta milhões... Nada recebi de graça! Nem a vida!
***
109
Sábio não é aquele que diz tudo que sabe, mas sim aquele que sabe calar quando o silêncio é mais eloqüente do que todos os discursos.
***
110
A mais didática analogia sobre inflação é:
Um pai de família tem duas crianças que necessitam de um litro de leite (cada uma, diariamente) para seu desenvolvimento ideal; mas este pai tem uma única vaca e esta não produz mais que um litro de leite por dia. O pai acrescenta um litro de água ao litro de leite e passa a ter “dois litros de leite”. Cada filho seu ingerirá o litro de leite recomendado. Só que esse litro de leite suprirá apenas 50% das necessidades nutricionais das crianças, gerando assim um déficit. E assim as crianças crescerão raquíticas e pré-dispostas a enfermidades.
O pai tem as opções: 1) - dar mais e melhor capim à vaca para que ela produza mais leite, o suficiente para alimentar sua família e ele vender o excedente (superávit); 2) - deixar que um dos filhos morra de fome e aí terá o litro de leite necessário para alimentar um filho; 3) - matar a vaca e comer bastante carne por alguns dias...
Imagine o seu país assim.
Aos governantes capitalistas o Fundo Monetário Internacional recomenda acrescentar a água ao leite para que as crianças sobrevivam e tenhamos maior oferta de mão-de-obra e, pela lei do livre mercado, maior oferta é igual a menor preço, e menor preço da força de trabalho é igual a maior lucro para o capital.
***
111
Todo o cuidado é pouco com os economistas – e não menos perigosos são os repórteres: uns, têm a capacidade de alterarem a álgebra; os outros (abutres plantonistas das tragédias dos outros) moldam os fatos.
***
112
A religiosidade é a mais imensurável expressão de egoísmo do ser humano.
Todo religioso vai à sua igreja pedir, e pedir somente para si: pedir saúde; pedir sucesso; pedir que seu dízimo seja multiplicado (“o senhor é meu pastor e nada me faltará”); pedir perdão pelos seus pecados cometidos para que assim – aliviado – volte a cometê-los quantas vezes se lhe apresentem as oportunidades... já que pressupõe que há um deus todo bondoso para lhe perdoar sempre suas maldades.
***
113
A JUSTIÇA é o único objetivo do Direito enquanto ciência.
***
114
As elites governantes em todo o mundo ocidental são bastante “modernas”: copiam o Direito Romano e a democracia grega.
***
115
Antigamente um juiz era escolhido dentre os cidadãos mais probos, justos, sábios, honestos e imparciais de uma comunidade. Hoje, porém, um assassino, bandido, corrupto e déspota faz um concurso público e vai condenar inocentes.
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116
Cercamo-nos de hipocrisias como nobres medievais em seus castelos, mas o que gostaríamos mesmo era de nos despir de todas as armaduras e deixar ruírem todas as máscaras que as normas e preceitos das putrefatas elites dominantes nos impõem: a cerca de giz com a qual fingimos nos proteger – hipócritas!
***
117
O consumismo é a expressão do egoísmo humano em seu paroxismo ou o paroxismo da expressão inumana do egoísmo? Ou nada mais é que não a necessidade compulsiva de preenchermos o vazio sem fim que há em cada um de nós?
É nesse tipo de sociedade que o verbo ter (possuir bens) adquire uma importância infinitamente maior do que o verbo ser (ser gente, ser honesto, ser amigo, ser justo, ser humanista, ser...).
***
118
A filosofia dos alienados e conformistas (querendo sugerir elevado grau de altruísmo) diz: “Onde come um, comem dois”, querendo ignorar que onde um passa fome, dois passarão muito mais.
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119
Às vezes – com a prudência e o desprendimento de um supérstite – eu vejo as minhas cicatrizes como se fossem incisões feitas a bisturi em um corpo exumado.
Quereis saber quem as fez e, sadicamente, não as deixa sarar?!
Para responder-vos, tomo emprestada a indignação do Cavaleiro da Esperança:
“O judiciário brasileiro sempre foi podre. Terrivelmente podre!”
***
120
Dos poderes constituídos (Legislativo, Executivo e Judiciário), o Legislativo e o Executivo – de uma forma ou outra – são “emanados do povo”, mesmo sendo num processo às vezes escuso e de caráter duvidoso. Mas o povo pode “escolher” e (de caras pintadas, no meio da rua) destituí-los.
Já quanto ao Judiciário... Não emana do povo, ignora o povo, é inacessível ao povo... São monstros intocáveis.
Lá vem mais um processo contra mim!!!!!!!!!!!!!!!!!
***
121
Se um dia eu cometesse o mais hediondo dos crimes, eu o assumiria em quaisquer circunstâncias; pois se não for para me orgulhar do que eu faço, simplesmente eu não faço.
Se eu concordei com o “atentado às torres do World Trade Center”?
Ora! Senti-me ressarcido; indenizado; redimido; alforriado; vingado...
Condolências às vítimas quando as vítimas são estadunidenses, mas milhões de vítimas das bombas e genocídios praticados pelos Estados Unidos em todo o mundo simplesmente vira um grande vídeo game transmitido ao vivo para uma platéia que já não tem mais o corpo ferido, mas sim incapacitada a mente pela absorção da “cultura” colonialista daquele império.
***
122
Os Estados Unidos são uma farsa: nem liberdade, nem justiça, nem partidos políticos...
Lá, alternam-se no poder (governo) os Democratas – católicos financiados pelas indústrias de bebidas e cigarros – e é aí quando temos um período de elevação das taxas de vícios nocivos. E os Republicanos – protestantes financiados pelas indústrias armamentistas – e é quando temos guerras para testarem e venderem novas armas a preço de vidas humanas e inocentes.
Para eles, que importa derramarem sangue, se desse sangue derramado haverá de jorrar petróleo? (Desde que seja derramar o sangue dos outros).
***
123
Tenho observado – ainda que subtilmente – uma correlação entre mães liberais e filhos marginais...
***
124
Às vezes, quando eu ouço alguém falar em respeitar a “opção sexual” (opção!!!!!!!!!?????????) para tentar – bestialmente – justificar o injustificável, num mister de preocupação, indignação e estarrecimento, intimamente eu fico remoendo:
Não há opção para a perpetuação da espécie (humana) senão pelo coito entre homem (macho) e mulher (fêmea) ou laboratório. O resto é foro íntimo...
***
125
Prudência e caviar: prudência usa quem tem juízo, mas não tem dinheiro; caviar usa quem tem dinheiro, mas não tem juízo.
Penso nisto sempre que me lembro de uma nação aborígine venezuelana que não come ovo, pois acredita ser de “extrema cobardia comer um ser que ainda nem nasceu”.
***
126
Se tu me falas que tens um amigo, eu não o imagino alto ou baixo; gordo ou magro; preto ou branco; rico ou pobre; risonho ou sisudo...
Um amigo é um substancioso substantivo, sem medidas e sem adjetivos. Alguém a quem temos o prazer e a felicidade de ajudar a qualquer hora – posto que por tal seja raríssimo encontrarmos alguém a quem possamos dizer: Eu sou teu amigo!
***
127
Os instintos têm sido mais úteis aos outros animais do que a razão aos homens.
***
128
Na Amazônia, quem de lombrigas e malárias não morre da exploração não escapa.
***
129
Sempre vi o mundo muito pequeno; muito mesmíssimo...
O cordão umbilical não pode e nem deve ser reatado – teve sua função na vida intra-uterina e não mais – e ignorar as fronteiras sempre me fez bem.
***
130
Não existe nada que o homem tenha feito sem que antes alguém tenha sido taxado de louco por ter sonhado com esse feito (pois os sonhadores – os idealistas – estão à frente do seu tempo).
***
131
Homens que dão a própria vida pelas causas dos outros não são homens comuns.
132
Muitos esquerdistas tiveram uma única virtude: reconheceram-se incapazes de competir e se sobressaírem no mundo cruelmente desigual do capitalismo e se agregaram aos partidos e movimentos de esquerda, quando ser de esquerda dava statu e destaque.
***
133
De todos os esportes conhecidos eu os tenho praticado com o denodado afã da certeza do mens sana in corpore sano, e não tão-somente pelo culto ao corpo, mas mais pelo enlevo da mente. Porém, é o jogo de xadrez que me eleva à quase fascinação, principalmente com algumas de suas regras táticas, tais como: “os soldados poderão ser rainhas e um bispo não vale mais do que um cavalo”.
***
134
Conheci um viajante que viciara a filha trazendo sempre um presente para ela, quando ele viajava.
Um dia, esse pai morreu em uma viagem e levaram o seu cadáver para sua casa e sua filhinha – viciada em ganhar presentes do pai viajante, sempre que este viajava – exclamou: “Ah! Ele nem trouxe o meu presente!”.
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135
Quando eu planto uma árvore, não sou movido pela esperança de me alimentar com os seus frutos, mas pela certeza de que muitos que a este pomar virão terão sua fome saciada.
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136
Tudo são questões matemáticas.
A dor é uma das coisas mais triviais na vida; portanto ela não nos pode dominar.
Vendo do prisma mais elementar da noção de conjunto, a dor está contida em mim e eu contenho a dor; a dor não me contém e nem eu estou contido na dor. Portanto é mais que racional concluirmos que a dor que eu contenho não pode me dominar.
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137
Certo dia, eu disse para uma jovem (cuja jovem era a personificação de todo sarcasmo e sagacidade que eu jamais vira em uma só pessoa) que conheci dois vizinhos que viviam a discutir.
Dizia um:
– Amigo bom é aquele que me dá o que tem.
O outro retrucava:
– Amigo bom é aquele que não quer o que é meu.
Aí, a jovem escarneceu:
– Amigo bom é teu dinheiro, mas cuidado para não pegar notas falsas! Restou-me questionar-me silenciosamente: “amigo bom” não é redundância?!
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138
Nunca dê uma segunda chance ao inimigo, pois certamente ele não lhe daria nem mesmo a primeira.
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139
Conhecer o passado nos ajuda compreender o presente, e a compreensão do presente nos habilita a prever o futuro e fazermos História.
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140
Um metro e sessenta e oito centímetros de homem (verdadeiramente HOMEM!) – sou muito homem.
Um metro e noventa centímetros de canalha é muito canalha!
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141
Um certo homem possuidor de muitos bens materiais – no esnobismo de suas caridades – de seus milhões de pães deu mil pães a alguns famintos.

Outro dia, vi um miserável pai de família, após dividir com sua enorme prole meia dezena de pães que conseguira comprar, repartir a migalha que lhe tocara com o filho de um seu vizinho!
Eu refleti:
Quem deu mais de si? Quem deu mil ou quem deu a metade de uma migalha?
E concluí:
O rico não deu um milionésimo do muito que tinha. O miserável deu a metade do quase nada que lhe sobrara!
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142
Nunca desestimules a verdade, pois um dia tu poderás ser vítima de uma mentira.
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143
O quanto me agrada a dureza do sincero não é o quanto me desagrada a estupidez e hipocrisia de um sim.
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144
Estou tranqüilo quanto à traição de minha esposa: ela me garantiu que só me trairia com um homem.
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145
Um verdadeiro homem faz o que diz, mas, necessariamente, não diz o que faz.
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146
Atribuir maldade a qualquer outro animal é uma maldade exclusiva do bicho-homem.
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147
Vou viajando sem passaporte e sem fronteira, porque minha pátria é a terra inteira; porque minha pátria é a terra toda, e a burocracia que se exploda!
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148
Quis, aqui, também expor minhas feridas; quis expor – com orgulho – minhas cicatrizes (todas, principalmente as mais íntimas); e como eu gostaria de chocar-vos com a exposição de minhas vísceras dilaceradas e de minhas chagas vivas e, deliciosamente, ver-vos contorcerem-se enojados com as feridas purpúreas e a purulência que hei de lançar no banquete pomposo da burguesia – principalmente na mesa dúbia e ignóbil de membros do judiciário... da forma mais estrambótica que me aprouver...
***
149
... ficaram profundas e indeléveis cicatrizes no meu corpo e na minha memória, e tanto que às vezes vejo sangue e pus nestas páginas que agora vos ofereço para vosso deleite intelectual.


Não sou carente de nada!
O máximo que eu tenho – e até o que não tenho – já me sobram.


... e se perguntarem por mim, diga-lhes que estou ocupado em ser feliz!



Contatos:
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  • AUTORIZAÇÃO:

    Por não reconhecer a autoridade do Estado burguês;
    Por crer que o conhecimento, a cultura e a Ciência são patrimônios de toda a humanidade;
    Por condenar visceralmente a propriedade privada;
    Por ignorar as fronteiras – principalmente geográficas;
    Por não reconhecer a legitimidade dos governantes serviçais;
    Por crer na inalienável liberdade de pensar e no poder da escrita:
    eu, F. Antenor Gonsalves, in fine assinado, autorizo a todo cidadão de qualquer parte do mundo a reproduzir e divulgar este livro por todos e quaisquer meios.
    _________________________
    F. Antenor Gonsalves.



    Um dia, eu caminhava por entre os cactos e para onde eu olhava só via espinhos; até que olhei bem para frente, rumo à outra extremidade do campo, e vislumbrei uma flor. Daí em diante eu não mais vi os espinhos.

    Para
    Luciana...

    Antenor.



    MEUS LIVROS SÃO TEUS!

    7 comentários:

    F. Antenor Gonsalves disse...

    Já passava da hora de termos um sítio virtual aonde irmos nos deliciarmos e nos polirmos com as idéis cristalinas e revolucionárias desse autor.
    PARABÉS!!

    Anônimo disse...

    É dificil comentar alguma coisa,mas vou arriscar,e sao caracteristicas de um homem probo,que sabe o que pensa e o que fala,se todo mundo fosse assim seria bem melhor.

    Anônimo disse...

    Tudo que vivemos,tudo que fazemos, tudo que sofremos,são graças de Deus.Para purificarmos nosso espírito e podermos conviver e compreender a si mesmo e os outros.As feridas que a vida nos traz são transformadas em sabedorias no futuro.Você é um ser abençoado por Deus.Tem uma missão que é de lutar e levar aos seus irmãos conhecimento como também elevando a auto-estima daqueles que um dia deixou de acreditar em si mesmo.Você é exemplo de força ,coragem, e esperança.Apesar das feridas e cicatrizes que a vida lhe deu. Você é especial.Parabéns

    Jair Francisco da Silva Júnior disse...

    Camarada Antenor, não sei o que o "amiguinho imaginário" citado logo acima tem a ver com tudo isso!!! Parabéns pelo livro!!!

    Kenard disse...

    Essé livro é o mais preferido! São passagens de vários livros e sempre que leio me emociono e fico me perguntando como uma pessoa pode ser tão especial? e que sorte grande eu tive de lhe conhecer. Fico na esperança de lhe rever. Um super abraço do seu AMIGO Kenard...

    F. Antenor Gonsalves disse...

    Conheci o Kenard saindo ele da infância e entrando na adolescência. Dois anos depois, voltei à sua cidade e quase já não o reconheci: aqueles estirões que fenomenalmente acontecem na adolescência.
    Era ele e mais alguns primos seus; e particularmente o Kenard se aproximava de mim para me ouvir e, como não poderia ser diferente, fazer-me algumas perguntas curiosas; e com o passar dos dias ele me tomou como confidente e, para surpresa e honra minhas, também como conselheiro - ou algo assim.
    Fato é que cultivamos uma sólida e profunda amizade, algo como pai e filho (excelente filho!)
    Tenho orgulho de jovens como você, Kenard! E fico pleno de esperaças-quase-certezas de que jovens assim têm feito a humanidade cada vez melhor, sempre!

    Unknown disse...

    Super interessante... só tenho a parabeniza-lô por mais esta brilhante obra... “... ficaram profundas e indeléveis cicatrizes no meu corpo e na minha memória, e tanto que às vezes vejo sangue e pus nestas páginas que agora vos ofereço para vosso deleite intelectual.” –Quando li este trecho me veio tanto a mente... mais em seguida li: “... e se perguntarem por mim, diga-lhes que estou ocupado em ser feliz!” - aaah... como é bom ter essa ocupação, não é mesmo??? Felicidades e Sucesso em seus objetivos... é o que lhe desejo....

    Como podemos nós mesmos governar o mundo sem delegarmos poder a corruptos?

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